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CUME: Laboratório de Pesquisa em Cultura e Memória

O CUME – Laboratório de Pesquisa em Cultura e Memória, surgido a partir das atividades do Amabile – Arquivo da Memória Artística Brasileira, é um grupo de estudo e pesquisa interdisciplinar que congrega pesquisadoras e pesquisadores interessados nos fenômenos da cultura, das artes e comunicações, da memória e seus processos de elaboração, organização e transmissão, no marco da história do tempo presente.

Nesse panorama amplo e eclético do ponto de vista temático, compreensões e conceitos do âmbito dos estudos da memória cultural são chaves organizativas. Em primeiro lugar, o entendimento do semiólogo Iuri Lotman de que "cultura é memória" -- isto é, de que a cultura não existe como depósito de informações, mas como mecanismo complexo de conservação baseado na relação entre memória e esquecimento.

Junto com ele, a asserção de Astrid Erll de quem nem cultura nem memória podem ser abordadas dentro do escopo de uma única disciplina, configurando problemas transdisciplinares que agudizam a presença e a premência do diálogo, em múltiplas instâncias -- indo da interlocução entre pesquisadores e sujeitos de pesquisa, por meio da história oral e de outras práticas de pesquisa pública e participativa que facultam interpretações partilhadas sobre os sentidos da rememoração, até a contribuição mútua entre a história e as demais disciplinas que configuram o panorama dos estudos da memória.

Por fim, é central para o grupo de pesquisa a noção de Jerusa Pires Ferreira de "cultura das bordas", atitude teórica generosa e produtiva que observa os processos culturais, e por conseguinte memoriais, que atravessam domínios culturais distintos, canônicos e não canônicos, sempre em contiguidade, portando textos culturais que se comunicam.

Três linhas de pesquisa expressam de maneira concreta as abordagens do grupo:

  1. História oral, história pública e questões socialmente vivas: Este eixo mobiliza debates teóricos, fortemente calcados na experiência empírica, sobre a história oral e a história pública como métodos de pesquisa e princípios de inserção acadêmica e social de pesquisadores. Valoriza a dimensão narrativa e participativa, coletivamente pactuada, nos processos de coleta de dados e formulação de interpretações  dialogadas sobre fenômenos socialmente relevantes observados pela história do tempo presente;

  2. Memória das artes, artes da memória: Este eixo oferece especial atenção aos universos das artes, das mídias e das comunicações, como espaços privilegiados para a construção e negociação de identidades e projetos, bem como para a interlocução entre realidades e vivências pessoais, coletivas e sociais dinâmicas. As porosidades entre popular e pop, arte e entretenimento, alta cultura e baixa cultura, highbrow e nobrow, são não apenas assumidas, mas colocadas em questão enquanto elementos altamente reveladores dos processos híbridos, interativos e globais que caracterizam e constituem condição para a própria existência de determinadas culturas contemporâneas;
     
  3. Memória e vida urbana:  Este eixo investiga as práticas de memorialização do passado na paisagem urbana contemporânea, tanto em sua dimensão comemorativa quanto residual. Da mesma forma, discute as práticas culturais e memoriais como formas de produção de visibilidade para as experiências de sujeitos e grupos posicionados nas bordas da vida urbana e da história urbana canônicas, sejam elas artísticas, religiosas, performáticas, políticas, sexuais etc.